terça-feira, 4 de outubro de 2016

Manacá



 
No cruzamento onde passo quase todos os dias na hora do almoço tem um pezinho de Manacá. Não o Manacá da Serra, que hoje a gente vê com frequência plantada nos jardins das cidades, mas o Manacá autêntico, com suas florzinhas de matizes diferentes entre o branco e o lilás e seu perfume forte. Quase todos os dias passo por ele quando vou e quando volto do almoço. E tenho tanta pena daquele pezinho de manacá perdido numa ilha entre asfaltos, à mercê da fumaça dos carros e do desprezo das gentes. Está lá há anos e não se desenvolve, apesar de estar sempre florido. Tenho vontade de parar e fazer um carinho nele e dizer que eu o vejo todos os dias no meu horário de almoço. Tenho vontade de levar ele de volta para o quintal da tia Lalá, lá em Caçaroca, onde ele podia usufruir da companhia da jaqueira e do cacaueiro, na beira do rio, esvoaçado de borboletas. Lá, sim, é o lugar dele. Foi lá que o beija-flor fez um ninho tão minúsculo, com ovinhos tão pequenos, que eu tive que colocar o dedo para sentir que era de verdade e então o Nélio me fez cuspir no ninho para tirar o meu cheiro dos ovinhos e não espantar a mãe beija-flor. E que cheiro bom ele exalava lá! De noite, então, dava até dor de cabeça ficar muito tempo perto dele, de tanto que perfumava.  Aqui ele não tem cheiro, não cresce, não acolhe beija-flores. Que pena que sinto dele!