sábado, 15 de janeiro de 2011

Vá se Foucault!

"Existem momentos na vida onde a questão de saber que se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir."
Michel Foucault

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Razão e fé

“A fé é a antítese da razão”.  Li essa frase e fiquei pensando sobre o seu significado e o que há por traz de uma afirmação tão peremptória. Por mais racional que eu seja não posso concordar com ela. Fé e razão não são antíteses, mas faces de uma mesma moeda. Acreditar na verdade dela é excluir da categoria de humanos racionais bilhões de pessoas que pautam sua vida pela fé, seja de que forma for que ela se manifeste. A frase é, portanto (ao menos do meu ponto de vista) profundamente preconceituosa.

A frase também é uma contradição, pois acreditar que a razão se contrapõe à fé é ter muita fé na verdade da razão. E a história tem nos mostrado que a razão não é exatamente uma manifestação da verdade, mas é puramente social e histórica.  Portanto, acreditar apenas na razão é ter uma fé vã, pois a razão pode assumir muitas faces dependendo do contexto social, histórico e cultural no qual estamos imersos.

A racionalidade fria que a razão impõe também se contrapõe ao meu conceito de humanidade, pois para atingirmos a racionalidade precisamos nos isolar do que temos de mais humano: o sentimento afetivo pelo outro, a compaixão e a afetividade. Tudo isso só pode ser explicado pela fé. A razão ainda não encontrou nada que possa explicar esse estranho laço que nós humanos temos com os outros humanos e que nos fazem sentir a dor do outro e colocar nossa vida à disposição daqueles que amamos.  Esses laços que nos constituem e nos tornam real.

A razão falha em muitas coisas. Talvez nunca consigamos encontrar a razão. A fé não busca a verdade das coisas. Não busca a razão de ser. Apenas é. E apenas ser talvez seja a única verdade alcançável. Nossa vã filosofia não dá conta da imensidão que não podemos apreender. A fé dá.  A fé ampara, acalenta, consola, une e não falha. A razão desespera e isola.

Quando falo de fé não refiro a religiões. Essas, em sua maioria, são formas diferentes de explicar o ser racionalmente. E, como tal, trazem consigo os mesmos dogmas que a razão contém. Enquanto a racionalidade cria o dogma da ciência e do conhecimento, a religião cria os dogmas do poder divino. Ambos paralisam e fazem com que nos sintamos impotentes diante de um poder maior que não podemos modificar ou interferir.

Eu, por mim, tenho buscado a fé. Encontrá-la é uma tarefa difícil nos dias em que vivemos. Não sei se serei capaz de chegar a ela. A vida tem me posto à prova todos os dias. Procuro me fortalecer na fé. Procuro me apegar à fé em que posso interferir, posso contribuir para que as pessoas, ao menos as próximas a mim, vivam melhor. Vou lavar minhas louças e cuidar do meu quintal. Vou me preparar para cuidar da minha rua, do meu bairro, da minha cidade. Buscar que o melhor de mim seja meu legado para a humanidade, mesmo que o melhor em mim seja muito pouco.