sábado, 27 de dezembro de 2008

Paralelos

(foto: Felipe Obrer)

As chuvas constantes desde novembro pintaram o caminho de verdes. Todos os verdes. O céu entreabria azul, mas estava matizado de brancos e de cinzas de nuvens de diferentes formatos. Se fosse um esquimó ela saberia o nome de cada branco que flutuava no azul. Ela observava toda a exuberância da natureza, em cada detalhe, guardando em seus olhos cada verde, cada azul e cada branco que podia. Ela olhava com seus olhos e neles guardava a paisagem para dar para ele. Ela sabia que ele só via cinza, semi-obscuridade e medo. Então guardava em seus olhos toda aquela paisagem que a chuva fez renascer para que ele também pudesse ver que a vida continuava para além das paredes cinza, dos muros altos e da dor. Essa dor, ela sabia, não podia aliviar ou dividir. Não podia tomar para si, aliviando-o da sua parte. Ela sofria sua própria dor, e ele sofria a dele. Isolados. Dores paralelas. Mas havia todos os verdes, azuis e brancos. Havia uma vida, que logo seria dele também. Como quem recolhe nas mãos em concha um pouco da água da nascente, ela recolhia as cores da paisagem para matar a sede dele. Até que ele pudesse beber a paisagem com seus próprios olhos.

Um comentário:

GAZUL disse...

De repente me lembro do verde
Da cor verde a mais verde que existe
A cor mais alegre, a cor mais triste
Verde que veste, verde que vestiste
No dia em que te vi
No dia em que me viste...
Leminski

Eu quero é meu alface na salada. Ass: Insensível Vegetariano.