Comece deixando de lado tudo aquilo que não é para o corpo. Ele apodrece devagar e o tempo demora. Mesmo que o seu já esteja podre, concentre-se nele. Mesmo quando estiver entre o corpo de alguém, concentre-se no seu. De que outra forma poderia estar alguém em tudo se não assim, extremamente atento ao próprio corpo e seus incontáveis outros corpos? Deixe de lado essas coisas de espírito, que o único espírito que o corpo sabe é a vontade. E essa é sempre urgente. E fica ululando dentro do corpo até que este cometa o excesso. Só no excesso o corpo se farta. No outro dia se arrepende, dói, faz promessas, mas depois volta a procurar alguma coisa que ele não sabe o que é... E não há nada para ser encontrado. Nada que naturalmente já não nos encontre e nos atinja todos os dias. Se não fosse o falecimento lento da memória, nem riríamos mais destes mesmos fatos. Ainda assim alguma coisa no corpo quer uma coisa que não sabe o que é. Será morrer? Deixe de lado, também, essas coisas de morrer. Não fazem bem para o corpo. Observe que seu corpo está em pé numa esfera torta girando como uma louca perto de uma outra esfera de fogo muito maior que ela; isso não vai acabar bem. Mas seu corpo pode gozar muito ainda. Gozos diversos. Por todos os corpos do seu corpo. Até os imaginários. Pode fingir que goza e gozar com isso. Ou com tapas ou enfeites ou remédios ou canivetes ou rapés ou mesmo sexo.
(De Juliano Gauche, poeta, letrista e vocalista da banda Solana, que amadurece a cada letra)
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
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