(foto: Felipe Obrer)
As chuvas constantes desde novembro pintaram o caminho de verdes. Todos os verdes. O céu entreabria azul, mas estava matizado de brancos e de cinzas de nuvens de diferentes formatos. Se fosse um esquimó ela saberia o nome de cada branco que flutuava no azul. Ela observava toda a exuberância da natureza, em cada detalhe, guardando em seus olhos cada verde, cada azul e cada branco que podia. Ela olhava com seus olhos e neles guardava a paisagem para dar para ele. Ela sabia que ele só via cinza, semi-obscuridade e medo. Então guardava em seus olhos toda aquela paisagem que a chuva fez renascer para que ele também pudesse ver que a vida continuava para além das paredes cinza, dos muros altos e da dor. Essa dor, ela sabia, não podia aliviar ou dividir. Não podia tomar para si, aliviando-o da sua parte. Ela sofria sua própria dor, e ele sofria a dele. Isolados. Dores paralelas. Mas havia todos os verdes, azuis e brancos. Havia uma vida, que logo seria dele também. Como quem recolhe nas mãos em concha um pouco da água da nascente, ela recolhia as cores da paisagem para matar a sede dele. Até que ele pudesse beber a paisagem com seus próprios olhos.
sábado, 27 de dezembro de 2008
sábado, 13 de dezembro de 2008
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Chaga
Tudo em mim é luto. Tudo é sangue vivo, chaga ardente.
Tudo é um vácuo sem respostas, um imenso túnel escuro.
Quero suas palavras banais, suas pequenas miudezas cotidianas.
Preciso descansar dessa ânsia, desse pesar insano,
No remanso de suas abstrações leves e suas cores primárias.
Talvez você me fizesse entender o sentido da dor.
E me trouxesse a calma de saber que nenhuma dor é infinita.
Ou talvez me desse um remanso onde pousar meu corpo
E me afagasse os cabelos em silêncio.
Talvez tirasse de mim a culpa que pesa meus membros
E essa névoa que cobre meu olhar.
Pois tudo em mim agora é névoa translúcida
Espaço inexistente onde caminho tateante e trôpega e só.
Proteção
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